Apoio cultural

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Enfim, uma primeira-dama que fala. E muito!

Fonte: jornal Tribuna da Bahia


A entrevista da primeira-dama do Estado, Fátima Mendonça, à revista Metrópole, de propriedade do empresário de comunicação Mário Kertész, repercutiu bastante na sessão da Assembléia Legislativa de ontem. Ela estava descontraída e falou de vários assuntos, inclusive tecendo críticas ao próprio governo do seu marido, governador Jaques Wagner, fato bastante explorado pela oposição. A bancada oposicionista não deixou passar em branco as declarações da primeira-dama à revista, associando as suas críticas às que eles vêm fazendo na Assembléia. “Finalmente apareceu alguém do governo para falar, já que o secretário de Comunicação não fala”, ironizou o deputado Tarcísio Pimenta (DEM). Crítico e irônico como todos os deputados oposicionistas se comportaram em relação ao episódio que dominou a sessão de ontem na Assembléia, Pimenta conseguiu arrancar aplausos quando concluiu a sua fala: “Não estou vendo nada demais. Quando li esta entrevista, vi claramente o rosto do governador Wagner”, declarou. A oposição também se sentiu atingida pela entrevista da primeira-dama, que declarou não existir oposição ao governo estadual. “É preciso perceber que não tem oposição. É uma revoada, todo mundo querendo vir pro lado de cá. É uma falta de vergonha danada”, disse ela, referindo-se aos deputados adesistas. Mesmo que a mensagem tenha sido direcionada a estes parlamentares, o fato de dizer que não havia oposição irritou os oposicionistas verdadeiros. Sobre isso, o deputado Paulo Azi (DEM) rebateu, afirmando: “A oposição não está acabando. Estamos aqui diariamente cumprindo a nossa missão”. Azi também fez críticas e concordou que a entrevista expressa a realidade do governo.(Por Evandro Matos)

Reclamações por “mudanças” repercutiram mais na oposição

Mas o que mais repercutiu entre a bancada oposicionista na entrevista da primeira-dama foi quando ela criticou o próprio governo Wagner pelas mudanças: “Eu digo a Jaques que não pode ficar igual ao presidente, demorando de fazer as mudanças necessárias”. Para o deputado Gildásio Penedo (DEM), líder da minoria na Assembléia, “a entrevista reflete a cara do governo e serve de conforto em relação ao posicionamento da oposição. A entrevista veio corroborar com a oposição, que o governo não tem rumo, já que a própria primeira-dama reconhece a falta de prioridade do governo”. Também nesta linha irônica, o deputado João Carlos Bacelar (PTN) entende que a entrevista revelou “uma sinceridade ingênua. É a verdade”. Para ele, “ela (Fátima Mendonça) apenas reconhece que o governo não tem norte e não tem projeto”. O deputado aludiu também ao trecho da entrevista em que a primeira-dama critica a adesão dos parlamentares ao governo como “uma falta de vergonha danada”, afirmando: “É um direito que ela tem como cidadã”. Em relação às críticas sobre a administração, ele disse que “ela apenas expressou a opinião do governador, pela proximidade que existe entre eles”. A repercussão da matéria entre os oposicionistas foi grande. Mesmo com minoria, eles chamaram a atenção no plenário, com todos bastante afiados e afinados nos ataques ao governo e na concordância irônica com as declarações de Fátima Mendonça. “A Bahia não tem rumo, o governo não tem rumo”, disse o deputado Gildásio Penedo. “A entrevista reflete a realidade do Estado. Se a situação concorda, não somos nós da oposição que vamos discordar”, completou o deputado Sandro Régis (PR).(Por Evandro Matos)

Governistas minimizam

Bastante provocado pelos oposicionistas, o deputado Adolfo Menezes (PTB), referido ali como um dos “adesistas sem vergonha” pela primeira-dama, chegou a usar a tribuna, mas não fez um discurso brilhante para se defender, nem atacar. Com poucas palavras, ele apenas desconver-sou. Já o líder da maioria, deputado Valdenor Pereira (PT), minimizou a polêmica, defendendo a liberdade de expressão da primeira-dama. “Ela é uma figura alegre, descontraí-da, e não mediu os passos das declarações”, disse, na tentativa de explicar os vários pontos da entrevista à revista Metrópole, que circulava pelos quatro cantos da Casa. Valdenor disse ainda que “a oposição está se baseando na entrevista da primeira-dama para desviar dos assuntos. Feliz do governo que tem uma primeira-dama como ela, jovem e descontraída”, completou. Outro que não deu guarida aos discursos oposicionistas foi José Neto (PT). Para ele, “o assunto não merecia ter tanta repercussão”. Já o deputado Leur Lomanto Júnior, líder da bancada peeme-debista na Assembléia, também fez defesa do governo, minimizando os pontos polêmicos da entrevista. (Por Evandro Matos)

Ela falou de quase tudo. E ouviu críticas, também
Leia a síntese da entrevista que a primeira-dama do Estado, Fátima Mendonça, concedeu aos apresentadores da Rádio Metrópole Mário Kertész, Rita Batista e Antônio Risério. Ela falou de quase tudo, ouviu críticas e também criticou o governo do seu marido Jaques Wagner:

Papel de primeira-dama

A política, em todos os sentidos, comanda o mundo. Gosto de política. Agora, política de mandato, não. Eu, Maria de Fátima Carneiro de Mendonça, ir pra rua pedir que votem em mim, porque tenho canela seca, cabelo bom ou falo bonito, não. Não quero, ninguém merece isso. Tenho o maior respeito por doutor Mário (Kertész), por Jaques, por todos que se colocam em julgamento público, mas eu não tenho coragem nem de pedir voto.

Primeira-dama ANTES
Não aparecia, não aparecia. Com Antonio Carlos, não aparecia de jeito nenhum. Com Paulo Souto, eu jantei muitas vezes também, e nunca vi a senhora dele. E a gente tá se acomodando com esse negócio de política compensatória. Não tem um grande projeto de transformação social.

A mulher na política

Não, não. Eu boto os homens todos no bolso (risos). Eu não tenho negócio de feminismo e machismo. Gosto de igualdade, sabe? As mulheres até se zangam porque eu nunca fui muito de movimento. Acho que ser feminista é cuidar da vida, pagar suas contas, não depender de ninguém, ter independência, ter liberdade. Aliás, vi uma palestra de Graça Belov. Ela falando de Confúcio, que loucura. Confúcio era uma miséria (risos). Doutor Mário, Confúcio dizia que a mulher devia ser mantida pelo pai; depois, pelo marido; quando ele morresse, pelos filhos, e se não tivesse filhos, pelo Estado. Ela não podia ganhar um tostão pra não viver só, viu? Medo. Tá vendo, Rita? Oh, Rita, se pronuncie.

Wagner governador

Por isso que acho que tem alguma coisa que ele veio fazer aqui. Vamos esperar, que o jeitão de Jaques, aquele jeito dele, daquela forma que ele é, não é à toa. Acho que, se é uma liderança que vai despontar cada vez mais, espero que as pessoas gostem, porque eu gosto. Gosto desse estilo de ser, sem precisar ter medo: me respeite sem ter medo. Um tem de respeitar o trabalho do outro.

Programas sociais

Acho que tem que dar o Bolsa Família, que o povo tá morrendo de fome, e não é só no interior não, aqui também. Brinco assim: você vai em boca livre e tá tudo lotado. A classe média está achatada. Tenho amigas que não estão conseguindo pagar a escola dos meninos. O Bolsa Família tá certo. Para a pessoa levantar da cama pra pescar, tem que estar com a barriga cheia. Mas, depois de um, dois anos, eu ia ter o maior orgulho de dizer: “Tudo bem, seu presidente, eu não preciso mais, agora tenho um emprego, já aprendi a fazer um ofício”. Isso é que seria bom. E penso também no meu trabalho de planejamento familiar. Se eu fizer esse trabalho e botar o meu Bahia no lugar certo... (risos).

Oposição ao governo

Mas é também, doutor Mário, que não tem uma oposição nisso. É uma revoada, todo mundo querendo agora vir pro lado de cá. É uma falta de vergonha danada.

Autocrítica do governo

O que vocês estão achando do governo? Muitas críticas? A saúde é dose, né?

Rumo do governo

Não sei. Mas isso ele sente bastante. Vocês deviam conversar mais com ele, marcar pra gente conversar. João Santana tem conversado com ele, porque ele próprio está sentindo isso, e isso angustia o cara, rapaz! Agora, acho que vai dar certo. Estou me dedicando exclusivamente a isso. Achei ótimo o que vocês me disseram aqui. E vou dizer a ele. A gente não veio pra brincar não.

Intimidade

Pois é, você tá vendo isso o tempo todo, né? Mas não estou me dando com ninguém que eu não me dava, não tô deixando de fora ninguém que eu tinha dentro. Atendo a todos, mas as pessoas estão mal acostumadas. Chegam e dizem: “Fatinha, eu tô com um projeto legal, maravilhoso”. Querem que eu encaminhe o projeto. Por que não vão pelo caminho normal, pelo caminho certo? Por que não entregam pro secretário, dão entrada no FazCultura? Por que é que sou eu que vou ter que entregar? Vou botar uma cruzinha no projeto, dizendo que foi Fatinha quem mandou e é pra ser aprovado? Deus é que há de me livrar! (risos).

Como conheceu Wagner

Foi na rua, na boemia. No Extudo. Eu tinha terminado meu casamento e tava assim seis meses. Sabe aquela coisa que você não sai de casa? Ficava naquela coisa e Guiga (Guilherme Sodré, ex-marido) também corria por fora, todo fim de semana colava, pra não dar chance. Mas um dia eu me danei e saí com uma amiga minha. Jaques era candidato a deputado federal e tinha o retrato dele no bar, bem ali na minha frente. Eu fiquei olhando e disse: taí, ó, gostei da pessoa. Foi no cartaz. Depois, pessoalmente, rolou também e tal. E aí foi indo e veio o amor.

Sobre ciúme

Tenho. Mas tenho ficado cada dia melhor, acredita? Assediado, como? Mandam bilhete? Mandam recado? Ele não tem tempo e lá em casa ninguém dá folga (risos). Fico, é lógico. Mas sabe o que eu acho? Já pensou se Jaques chega em casa nove da noite e eu estou de cara feia, dizendo “você errou aqui a licitação e tá horrível a situação da saúde”? Você já imaginou isso? Aí era que ele só ia chegar em casa meia-noite, e olhe lá (risos). Ele chega em casa e eu estou sorridente, feliz, realizada. Mas eu acho que eles já fazem isso. Mais que o governador, que fica muito preso a algumas funções. Você ter uma primeira-dama que fale desse jeito! Outro dia, eu fui jantar no palácio – e olhe que já estive jantando lá com uns 30 governadores – e foi, rapaz, o melhor de todos. Porque foi descontraído, tranqüilo, a gente brincou.

Comparação com Evita

Acham que eu pareço com Evita, pelas coisas que falo, que vou ajudar e tal. Vou atender todo mundo. Mas, quando uma amiga chique, socialite, diz: “menina, eu tô te ligando e cê não atende”, digo logo: “eu só estou atendendo os pobres, você ainda não está precisando”. E aí é por isso. Mas nem conheço muito bem a história de Evita. Li um livro sobre ela, e só.

Relação com Wagner

Até adoro uma briga, mas não acho (risos). É difícil brigar com ele. É uma briguinha de vez em quando pra dar uma temperada. Mentira, ele é muito equilibrado. Ele sabe que a gente se adora, se ama. A coisa que mais incomoda ele é alguém pensar que tá passando ele pra trás, com falcatrua. Tentando usar ele pra algum esquema.

No palácio

Não, eu não administro o palácio. A gente faz o que pode. Apaguem a luz, meninos! Desliguem a televisão, sacanas! O dinheiro, aqui, é como na casa de vocês: tem de economizar! E temos economizado bastante. O patrimônio entrou lá, depois de 20 anos, pra fazer todo o inventário. Agora tem plaquinha em tudo. Porque, na hora em que eu passar adiante, podem conferir tudo, pra não dizer que sumiu na minha mão.

Ocupação do tempo

Quando não tem o que fazer, gosto de dormir cedo. Quando tem, não me incomodo de dormir tarde. Gosto de ficar vendo minha televisão-zinha. Agora, tô vendo Blonde, Marylin Monroe. Que loucura a bichinha sofreu. E não gosto de acordar muito cedo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Nosso único objetivo é falar a verdade sobre os fatos e divulgar o que pertence ao interesse povo, sempre prezando pela qualidade da informação.