Texto:
Assessoria da ADEP-BA
Defensor José Ganem Neto |
O
garoto tinha apenas sete anos de idade quando decidiu furar o cerco
de uma mul-tidão para apertar a mão do então governador Antonio
Carlos Magalhães. Ele não fez isso por publicidade ou
qualquer interesse menor, mas para saudar o nome de seu próprio pai.
Duas décadas depois, ele mesmo estendeu a mão a um galã da TV
Globo, permitindo que este adentrasse à sua boate sem pagar um
centavo sequer. Bem, isso ele fez por marketing!
Qual
é o seu nome? José Ganem Neto (foto),
o nosso primeiro defensor público entrevistado em 2010. Ele parece
ter ouro no DNA, afinal, sua história é apenas um capítulo na
odisséia empresarial do avô e do pai. Daí que começaremos esse
texto pelo final do século XIX, com José Tannus Ganem, nascido em
Cedro, no Líbano. Avô paterno do nosso entrevistado, José Tannus
deixou o Líbano na primeira metade do século passado (era um país
muito pobre), para tentar a sorte no Egito.
Na
terra dos faraós e de mulheres com testa proeminente, Ganem
trabalhou na última fase de construção do Canal de Suez ? uma obra
de 163 quilômetros que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho. A
construção desse canal ceifou a vida de quase 150 mil homens. No
entanto, permitiu que embarcações passassem a navegar da Europa à
Ásia sem a necessidade de contornar o Cabo da Boa Esperança, na
África ? trajeto este que, no final do século XV, teria propiciado
a "descoberta" da América.
O
avô de Ganem Neto até simpatizava com o deserto, mas, tempos
depois, migrou para a esquina do mundo ? Nova York. É como se ele
trocasse o kebabs egípcio
pelo mac
lanche americano.
Quem já teve a oportunidade de visitar o norte do continente
africano pode melhor dimensionar essa diferença. Gastronomia à
parte, o lugar mais instigante do mundo é, sem dúvida, Nova York.
Acontece que, três anos após se instalar na quintessência da
civilização, José Tannus Ganem recebeu um convite inusitado, qual
seja, morar na Bahia.
Isso
mesmo: um de seus irmãos se estabelecera com a família em Ilhéus,
quando Jorge Amado ainda era uma promessa. "Venha
morar num lugar melhor que Nova York, onde o ouro brota das árvores",
disse o irmão Ganem, referindo-se ao cacau, que já era responsável
por 50% do PIB da Bahia. E não deu outra: a bordo de um navio de
terceira classe, José Tannus Gannem aportou na futura terra de
Gabriela. A viagem foi inesquecível: ele passou muito mal, a ponto
de perder 18 quilos (um verdadeiro spa em
alto mar).
Em
compensação, na terra do vatapá conheceu dona Luiza Marfuz, com
quem se casou e teve vários filhos. Aos poucos foi prosperando e
conseguiu construir um bom patrimônio. Aí veio a Segunda Guerra
Mundial e, com as bombas, o boato de que o governo de Getúlio Vargas
iria confiscar os bens dos estrangeiros que residiam no Brasil.
Resultado: José Tannus Ganem transferiu todo o patrimônio para um
compadre seu, mui
amigo,
a fim de que, quando terminasse a batalha contra o nazismo, fosse
devolvido.
Acabada
a guerra, em 1945, o tal amigo se negou a fazer a devolução dos
bens. Ora, na terra do cangaço, a lei é o rifle! "Meu
avô perdeu tudo. Teve que recomeçar a vida do zero e mudou-se com
toda a família para Salvador", conta
Ganem Neto. Na
capital baiana, os filhos foram trabalhar para ajudar no sustento da
casa. O pai de Ganem Neto, aos nove anos de idade, tornou-se camelô:
vendia pentes de cabelo no Largo do Tanque. Olha, este clima nos
intima a ouvir a canção que Zé Ramalho fez para seu avô Raimundo,
em 1978, e que intitulou Avôhai.Ouça
aqui.
Leônico ?
A saga familiar continuou e, nos anos 50, seu pai, Marcel Ganem,
tornou-se caixeiro-viajante pelo interior da Bahia. Muita luta, muito
suor e, portanto, sonhos a serem alcançados. E nada foi em vão. No
início dos anos 60, Marcel já era um comerciante instalado na
Cidade Baixa, próximo ao Elevador Lacerda, uma área bastante
valorizada naquela época. Nessa pujança inicial, tornou-se
presidente do Leônico e, em 1966, sagrou-se campeão baiano.
O
filho nos conta sobre esse feito: "Para
obter êxito, ele pagava o bicho (prêmio) no campo, logo após as
vitórias, visando estimular os jogadores. Foi uma estratégia que
deu certo na época em que o futebol ainda era algo um tanto
amador". A
verdade é que entrou para a história do futebol baiano. Nessa
ocasião, seu pai viajava muito para São Paulo e lá conheceu sua
primeira esposa ? uma filha de imigrantes japoneses. Casou-se com
ela, mas a união durou um ano. Da relação nasceu Luiza Ogawa
Ganem, em 1966. Hoje ela é empresária.
Sete
anos depois, em 1973, Marcel Ganem resolveu voltar para a região sul
da Bahia e se estabeleceu na cidade de Coaraci, onde tinha parentes.
Lá conheceu dona Marizete Alves de Oliveira, filha de Joaquim Alves
de Oliveira e Maria do Carmo Alves de Oliveira, que são de origem
portuguesa e vieram de Sergipe para plantar cacau. Tornaram-se
fazendeiros do fruto dourado. Após três meses de namoro, Marcel e
Marizete estavam casados.
José
Ganem Neto veio ao mundo no dia 22 de maio de 1975, na cidade de
Ilhéus. Não conheceu o avô, mas herdou-lhe o nome. Da união
nasceu também seu irmão Rodrigo Ganem, hoje procurador trabalhista
em Itabuna. Em 1977, a família foi morar em Una, próximo a Ilhéus.
Seu pai tinha fazendas por lá e, naquela época, o acesso era muito
difícil. Marcel Ganem prosperou muito: adquiriu várias fazendas de
cacau, seringa, guaraná e pimenta-do-reino, além de um armazém de
compra e venda. No começo dos anos 80, já era o maior produtor de
guaraná na Bahia.
O
negócio cresceu tanto, a ponto de ele montar uma fábrica de guaraná
em pó e condimentos. Mas, para isso, viajou a Manaus e aprendeu como
fazer e industrializar o guaraná. Ficou lá estudando a erva e,
quando retornou, criou a Miatã (que significa "forte", em
tupi). O guaraná tornou-se um sucesso de vendas. Detalhe importante:
quem criou todo o marketing na
época e fez a campanha de lançamento do produto foi Duda Mendonça
(também idealizador do nome).
ACM ?
O objetivo não era apenas ficar rico, mas proporcionar uma vida
melhor aos necessitados. Isso mesmo: o pai do nosso entrevistado
praticava muita filantropia. Eis um exemplo: "Ele doou um
pedaço de terras que lhe pertencia na periferia da cidade para que
as pessoas carentes pudessem ter onde morar. Mandou seu trator rasgar
a área em lotes e distribuiu entre os pobres. Hoje é o maior bairro
daquela cidade, repleto de pessoas carentes, que, agradecidas, deram
seu nome ao local: Bairro Marcel Ganem", conta o filho.
O
pai de Ganem Neto também distribuía dinheiro, roupas e comida às
pessoas carentes. Doava cobertores no inverno, ajudou a equipar o
hospital da cidade, enfim, eram enormes as filas de pessoas na porta
de seu escritório e em sua casa pedindo todo tipo de ajuda. "Ninguém
recebia um não. Minha mãe sempre mandava distribuir comida aos
presos, como as frutas que vinham das fazendas".
Nessa
ocasião, Ganem Neto, aos sete anos de idade, entrou na carceragem da
delegacia local, acompanhado de um empregado da família, para levar
donativos. "Fiquei
chocado com todos aqueles homens presos. Aí um deles perguntou se eu
era filho de "seu" Marcel e "dona" Marizete. Eu
respondi que sim. Então ele me entregou, pela grade, uma fogueirinha
de São João feita com folha de gibi e carteira de cigarro. Todos
mandaram agradecimentos a meus pai. Nunca esqueci isso".
Marcel Ganem ( o segundo) na inauguração do BANEB 1982 |
Foi
nessa mesma época que ocorreu a inauguração de uma agência do
Baneb em Una. O ano era 1982. O então governador Antônio Carlos
Magalhães foi para a inauguração. A cidade estava em polvorosa.
Seu pai estava viajando. Ganem Neto, embora criança, ficou indignado
com o fato de o nome do genitor não ter sido lembrado na
inauguração. Resultado: decidiu ir pessoalmente conversar com o
governador, e conseguiu o feito após a recepção no clube social,
quando ACM estava entrando no carro para ir embora, se despedindo de
todos.
Ganem
Neto nunca esqueceu a cena: "Estavam
ali os vereadores, o prefeito e uma multidão em volta. Saí pedindo
licença aqui, empurrando ali, furei a multidão e entrei na roda.
Pedi licença e me anunciei, estendendo a mão ao velho ACM. Ele,
surpreso, sorriu e perguntou quem era aquele menino. O prefeito então
pegou na minha mão e me apresentou: "esse aqui é o filho de
Marcel Ganem". ACM então apertou minha mão, sorriu e disse:
"conheço seu pai e seu tio". Fiquei colado com ele até a
viagem. Não podia deixar que esquecessem o nome de meu pai. E ele
ficou todo orgulhoso quando soube da história".
Seu
tio Admon Ganem ? a quem ACM se referiu ? é o irmão mais velho do
pai. Ele também começou a vida profissional como camelô e
engraxate, chegando a galgar os cargos de diretor da Volkswagen e do
Banco do Brasil. É vivo e mora hoje em São Paulo, mas visita Ilhéus
a cada quatro meses. Admon Ganem recebeu o título de comendador das
mãos do então presidente João Figueiredo. Nosso entrevistado
também é primo do ex-governador Paulo Ganem Souto.
Boate ?
Em 1984, a família retornou para Ilhéus, onde sempre passavam os
finais de semana. Eles já possuíam um apartamento na cidade ? local
onde moram até hoje. Ganem Neto e o irmão precisavam estudar numa
escola particular (Una só tinha colégio público). Em 1985, seu pai
comprou um fábrica de embalagens plásticas no distrito industrial
de Ilhéus, ampliando mais um pouco suas atividades empresariais.
Como
nesta fábrica havia muita área verde, Marcel Ganem colocou lá dois
pôneis: um para Ganem Neto e outro para seu irmão.
"Andávamos a cavalo pelo centro industrial, entre as
multinacionais de chocolate e outras empresas. Era um
barato", lembra. Após
cursar o primário, ginásio e segundo grau, ingressou na faculdade
de direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Isso foi em
1993, aos 17 anos de idade."Escolhi
o curso jurídico desde os 14 ou 15 anos". No
ano seguinte, em 1994, um grande baque: seu pai morreu. Sua mãe,
aposentada, é viva!
Ganem
Neto concluiu a faculdade e, logo depois, montou uma boate, com uma
equipe de mais de 30 pessoas, entre seguranças, barman, cozinheiros,
recepcionistas, etc. Entre muitas histórias dessa época, marcou-lhe
a de um galã de novela, que queria entrar sem pagar porque era da TV
Globo. Seu primo (e sócio) barrou o cara, alegando que não o
conhecia porque não assistia novela. O astro ficou na porta
resmungando e triste.
"Eu fiquei com pena do cara e liberei a entrada, afinal, era bom
para a imagem do local, para o marketing. Há muitas outras
histórias, mas eu não posso contar neste site familiar", diz,
rindo.
Ganem
ganhou dinheiro com a boate ? estabelecimento que mantém até os
dias de hoje ?, mas o espírito empreendedor o levou a novos
horizontes. Ele foi para São Paulo, onde fez dois cursos (lato
sensu)
no Complexo Damásio de Jesus. Morou três anos na capital paulista.
Alugou um pequeno apartamento na Liberdade e lá conviveu diariamente
com japoneses, coreanos e chineses. Foi nesta época que se viciou em
comida japonesa.
"Havia gente de todo o país que ia para lá estudar. Em razão
disso, tenho amigos em todos os locais do Brasil, do Rio Grande do
Sul a Roraima. Foi uma experiência fantástica".
Concursos ?
E na paulicéia desvairada surgiu o desejo por uma carreira pública,
ou melhor, ele queria ser promotor de Justiça e focou esta carreira
a partir de então. Em 2006, passou no concurso de promotor do Estado
do Pará. E o que é mais interessante: ele será chamado agora, em
2010, para tomar posse no cargo, mas já decidiu: "Eu
não vou tomar posse. Perdi o interesse. Aos poucos me apaixonei pela
Defensoria Pública",garante.
Ganem
Neto ingressou na DPE em setembro de 2006, quando a defensora geral
Hélia Barbosa lhe deu posse, juntamente com outros 19
colegas. "Nunca
pensei em ser defensor público. Acho que foi meu destino...".
Na época em que foi lançado o concurso da DPE-BA, ele se inscreveu
sem ler o edital. "Fiz
por fazer",
comenta, mas acabou passando entre os primeiros colocados. "Achei
que fosse ficar só uns cinco meses na instituição. Naquela época
ninguém falava em DPE, não havia perspectiva de melhoras, era tudo
muito vago".
E
os primeiros meses na carreira foram dolorosos. "Tomei
posse e fui para a comarca de Simões Filho, junto com a colega Eva.
Não havia sala, computadores, móveis, enfim, nada. Aí conversamos
com o juiz e este nos cedeu uma sala para re-implantarmos a
Defensoria Pública no município, que já havia cinco anos sem
defensor público. Nós mesmos fizemos a faxina, limpando toda a
papelada. Ficamos semanas esperando chegar os móveis e os
computadores". Não
obstante, ele diz que tem saudade de Simões Filho.
"Foi muito bom trabalhar ali".
Quando
surgiu a oportunidade de ir para Salvador ou Ilhéus, decidiu por
esta última porque o salário estava defasado. "Em
Ilhéus também não havia estrutura. A DPE funcionava numa salinha
minúscula dentro do fórum, sem banheiro. Mas fui muito bem recebido
pelas defensoras Silvia e Cristiane, que já atuavam na comarca. Me
deram muito apoio e orientação da prática defensorial, que eu até
então não possuía. Ainda hoje recebo delas muito apoio para o
desenvolvimento das atividades".
Ganem
Neto faz questão também de agradecer o apoio dos colegas mais
novos: Rodrigo Gouveia e Nelson Côrtes. "Sempre
saímos todos juntos para confraternizações mensais, em
restaurantes da cidade. Nos comunicamos muito bem e sempre temos boas
idéias em prol da comunidade". Em
2008, quando seria inaugurada a 3ª Regional, "fomos
nós que colocamos os móveis nas salas, junto com alguns
funcionários e, mais uma vez, fiz faxina para entrar na minha
sala". Se
não fosse assim, não haveria inauguração em tempo hábil.
Nosso
entrevistado também foi aprovado nos concursos para defensor público
de Sergipe e Tocantins. Chamado para tomar posse, não teve interesse
em sair da DPE-BA. Hoje é titular da Comarca de Una ? "com
muito orgulho",
ressalta ? e está designado para Ilhéus. "Pensei
muito em desistir da carreira, em voltar a estudar para ingressar na
magistratura ou MP. No início, isso era constante. Me desanimava
quando via o contra-cheque. Ficava me sentido fracassado e pensava
que não tinha valido a pena ter estudado tanto".
Ele
conta que alguns juízes e promotores chegavam a incentivá-lo a
largar a DPE. "Um
juiz me disse que queria me ver sentado ali, e batia na própria
cadeira, me provocando. Hoje eu "tiro onda" e respondo:
sair para quê, para ganhar a mesma coisa? Aí fica todo mundo de
bico",
diz, aos risos. Apesar das dificuldades, ele garante que não troca
mais a carreira por nada. "Gosto
tanto disso aqui, que, caso ganhasse hoje na mega-sena e ficasse
milionário, não deixaria a Defensoria Pública. Continuaria
trabalhando por prazer, apesar dos desgastes. Hoje tenho prazer e
orgulho de ser defensor público".
Atualmente,
Ganem Neto trabalha na 3ª Vara Cível e de Registros Públicos, 4ª
Vara Cível, Núcleo de Conciliação Prévia e atendimento ao
público, além de substituir na Vara da Infância e Juventude e
também no Júri e execuções penais. Sua preferência é pela área
criminal. O relacionamento com juízes, promotores e servidores é
excelente. Os juízes e promotores têm quase o dobro da sua idade,
mas ficam horas conversando com ele quando a folga no trabalho
permite. "Trocamos
muitas idéias".
Ganem
Neto revela ser uma figura bastante descolada, principalmente quando
o assunto é avaliar a Defensoria Pública da Bahia. Ele o faz
positivamente sob alguns aspectos e negativamente com relação a
outros. "Sem
dúvida, avançamos muito nesses três últimos anos e meio, mas
ainda falta muito. Não gostaria de ocupar nenhum cargo na
administração da DPE, muito menos o de defensor geral, mas gosto
muito da ADEP e de Laura, nossa competente presidente".
E
se você fosse defensor geral, o que faria? Ele não pestanejou e
enumerou seu projeto. Eis a lista com 19 propostas:
1 ?
Lutaria com unhas e dentes para obter a iniciativa de lei;
2 ?
Faria a adequação da nossa Lei Orgânica à nova Lei de
Organização Judiciária do Estado da Bahia, readequando as
entrâncias;
3 ?
Em razão do número reduzido de defen-sores, fixaria áreas de
atuação e concen-traria nas cidades mais importantes, sem
pulverizar tanto como ocorre hoje, até que novo concurso fosse
realizado;
4 ?
Implantaria o sistema autônomo de folha de pagamento, nos
desvinculando de vez da SAEB;
5 ?
Desburocratizaria ao máximo todo o serviço administrativo do
defensor;
6 ?
Buscaria um desenvolvimento sustentável da instituição,
administrando esta como se fosse uma empresa, dinamizando nossa
atividade-fim, divulgando nosso "produto" e reduzindo os
custos operacionais;
7 ?
Tentaria melhorar ao máximo o subsídio do defensor público, dando
a ele todas as vantagens legais possíveis, como melhoria dos
valores das diárias e pagamento de plantões, por exemplo;
8 ?
Lutaria incansavelmente pelo sub-teto;
9 ?
Pagaria, prioritariamente, a URV, inclu-sive como forma de compensar
os defensores mais antigos pelos anos de injustiças salariais;
10 ?
Promoveria e aumentaria, a longo prazo, as vagas de defensores no
TJ;
11 ?
Estimularia o aperfeiçoamento do de-fensor na sua área de atuação,
facilitan-do pós-graduação, mestrados e doutorados;
12 ?
Estimularia o exercício do magistério superior, assim como o fazem
a magistratura e o MP;
13 ?
Faria da instituição uma carreira de ponta, onde se subiria pelo
mérito e não pela bajulação;
14 ?
Estimularia o uso intensivo de tecnologia, dado a extensão
territorial do Estado;
15 ?
Estimularia ao máximo os servidores e defensores a desenvolver suas
atividades da forma menos custosa possível;
16 ?
Implantaria o uso de papel reciclado e de-mais medidas de proteção
ao meio-ambiente;
17 ?
Obrigaria o coordenador do interior da DPE a fazer visitas
periódicas às regionais, de forma a se inteirar dos problemas e da
realidade local;
18 ?
Protegeria a todos os defensores, mesmo àqueles que não
concordassem com a política do defensor geral;
19 ?
Seria extremamente democrático e acessível.
Quer
mais? "Bem,
isso foi o que me veio rapidamente à memória. Há muitas idéias e
muita coisa a ser feita. Acreditei
na DPE desde o início, apesar das dificuldades. Quando eu ingressei,
vi a Defensoria Pública como uma pequena empresa. Hoje a vejo como
uma empresa média que, em breve, irá se tornar grande. Vai crescer
muito e eu quero crescer junto com ela". Olha,
isso é que é crítica sustentável, ou seja, apontou as
deficiências propondo 19 soluções. Como diz o povo, matou dois
coelhos com uma só cajadada.
Para
retribuirmos essa capacidade sutil do nosso entrevistado, vamos tocar
uma canção que Djavan fez para homenagear Caetano, como brinde à
bela lista acima. Um detalhe: Ganem Neto escolheu esses dois artistas
como seus prediletos, daí que decidimos trazê-los juntos, ou
melhor, abater duas aves num só tiro. Ele também disse que gosta de
Madona, Shaquira e qualquer música de boate. "Só
não gosto de pagode, arrocha e sertanejo. Deus me livre".
Pois
bem: vamos ouvir a incrível canção que Djavan compôs para
descrever Caetano. Um dos versos ? "tocarei
o seu nome pra poder falar de amor" ?
é algo que, com certeza, o filho de dona Canô não merece. Somente
Jesus, quem sabe, tenha recebido tamanha homenagem na cultura
ocidental. Seria coerente Djavan afirmar que tocaria o nome de
Caetano para falar de um deus,
ou seja, "para
falar de amor e ódio".Controvérsia
à parte, segue a pérola: Sina.
Livros
e viagens ? Ganem Neto não gosta de futebol, embora jogue
bola com os amigos de vez em quando. "Não torço para
time nenhum e nunca fui a um estádio de futebol". Seu filme
inesquecível é o Poderoso Chefão III. Alguns livros lhe marcaram
na vida, a exemplo de "Terras do Sem Fim" e "São
Jorge dos Ilhéus", ambos de Jorge Amado. Nessa
entrevista, ele descreveu todas as obras citadas. E o fez em detalhes
(não publicaremos seus comentários porque o texto ficaria muito
longo).
Nesse
contexto, Ganem Neto citou também "Mauá,
Empresário do Império", obra
de Jorge Caldeira, que conta a história do empreendedor Visconde de
Mauá. Os dois últimos livros que leu foi "Condessa
de Barral - A paixão do Imperador", de
Mary Del Priore, e "Uma
breve história do século XX",
de Geoffrey Blainey, professor de história da Universidade de
Harvard e Melbourne. "Estou
lendo agora "Uma breve história do mundo", do mesmo autor.
Fascinante". Nos
finais de semana, costuma ir à praia, em Ilhéus e na bela Itacaré.
Você
tem um poema predileto? "Não
tenho, mas quando estava em São Paulo vi uma carteira da Faculdade
de Direito da USP em que Castro Alves, que por lá passou e estudou,
riscou: "Vim fartar-me nos belos seios das lindas filhas do
sul". Uaaaaaau!
Nosso entrevistado bebe socialmente: cerveja, uísque e caipirosca.
Nunca fumou. Seu prato predileto é Tribile, da culinária árabe.
Também gosta de kibe cru e de sashimi. "Na
minha casa comemos comida árabe quase todas as noites. Não tem esse
negócio de café com pão. Jantamos mesmo".
Ele
conhece todos os estados do Brasil e a noite das 27 capitais. Já
tomou banho com grade protetora de piranhas no Rio Tocantis, conheceu
as ruínas da estrada de ferro Madeira-Mamoré, em Rondônia, e
visitou a casa de Chico Mendes, em Xapuri, no Acre. Quer mais? Bem,
atravessou o Acre de carro até a Bolívia, para conhecer a noite de
Cobija e tomar a cerveja deles ? a forte Pacenha. Conheceu a vida
noturna de Boa Vista, em Roraima, no Complexo Airton Senna. Enfim,
esteve em lugares que nem estão no mapa. Foi também à Argentina,
Uruguai e Bolívia.
Ganem
Neto, solteiro e sem filhos, se considera "um
empreendedor por natureza", daí
a analogia que fez acima entre empresa e DPE. Ele gosta de
acompanhar o mercado financeiro, fala um pouco de árabe ? ensinado
pelo pai e avó ? e adora história. É exigente, perfeccionista e
crítico. "Sou
tão crítico que, ás vezes, posso parecer chato. Porém, quero
sempre o melhor para mim e para os que me cercam, tanto na vida
pessoal quanto na vida profissional. Gosto de gente sincera, que olha
no olho e fala a verdade, e que tem caráter. Detesto gente fraca e
covarde".
Olha,
das 19 propostas feitas por Ganem Neto para melhorar a administração
da DPE-BA, uma delas é capital, qual seja, a do item 13:"Faria
da instituição uma carreira de ponta, onde se subiria pelo mérito
e não pela bajulação".
Sem dúvida, essa proposta não só revela a personalidade do nosso
entrevistado, como é o motor de todos os outros 18 itens. Afinal,
sem mérito impera-se o grude paternalista e corrupto, isto é, com
bajulação estrutura-se uma instituição fraca e covarde. Parabéns,
José Ganem Neto!